Nunca um príncipe atuou tanto tempo a serviço de sua rainha. Foram 73 anos de casamento e 68 anos em funções oficiais até o último suspiro em seu castelo, no dia 9 de abril. E nunca a emissora pública britânica, a BBC, fez uma cobertura tão extensa para retratar o momento.

O resultado? Nunca recebeu tantas críticas, a ponto de bater o recorde de reclamações da história da TV do Reino Unido.

Foram pelo menos 110.994 pessoas (até esta segunda-feira, 12/4) reclamando da decisão da BBC de focar toda a sua programação na morte do príncipe Philip. Eles não gostaram da substituição de seus programas favoritos, como MasterChef ou EastEnders, para dar espaço aos tributos reais.

Todos os canais de TV e as estações de rádio controladas pela BBC tiveram suas programações afetadas.  A BBC One e a BBC Two dedicaram o período da noite de sexta-feira a Philip. Em retribuição, receberam a queda de seus níveis de audiência, com o público desligando seus aparelhos ou voltando-se para serviços de streaming ou canais concorrentes.

O volume de cobertura de imprensa é gigantesco. Nos três primeiros dias depois da morte do príncipe foram mais de 550 páginas impressas e muitos encartes especiais. 

Quem mexeu no meu MasterChef?

O The Guardian, que teve acesso ao registro interno de reclamações da BBC, constatou que o feedback negativo dos telespectadores atingiram níveis sem precedentes. O jornal avalia que o recorde anterior de reclamações da BBC seja de 63.000 objeções à decisão de 2005 de transmitir Jerry Springer: The Opera, devido à reação de grupos cristãos.

Um exemplo de comentário destacado pelo jornal foi:

“A cobertura deste evento ocupou toda a transmissão da noite, com a exclusão de todos os outros tópicos, incluindo o da pandemia. Alguma cobertura seria justificada, mas não nesta extensão. ”

Outra das reclamações registradas:

“Foi uma notícia triste que o príncipe Philip tenha morrido e eu entendo que a BBC deva noticiar o fato. Mas em todos os canais? Por que não colocá-lo em apenas um dos canais para aqueles que querem ouvir aquela baboseira? Assim o resto de nós poderia ter tido um pouco de música.”

Críticas surgiram em poucas horas

Poucas horas depois da morte de Philip, o número de reclamações sobre a cobertura havia se tornado tão grande nas redes sociais que a BBC criou um formulário específico, na tentativa de agilizar o processo. O formulário foi retirado no domingo, tornando mais difícil para as pessoas registrarem seu descontentamento.

A BBC não quis falar com o The Guardian sobre os números vazados do fim de semana e disse que um anúncio formal seria feito conforme planejado na quinta-feira.

Reclamações também contra o filho do príncipe

Nem todas as reclamações foram sobre a extensão da cobertura da BBC. O The Guardian revela que quase 400 pessoas escreveram reclamando que o príncipe Andrew tenha aparecido, apesar de sua associação com o financista Jeffrey Epstein.

Outras 233 pessoas reclamaram que os apresentadores da BBC não estavam vestindo roupas suficientemente respeitosas. Alguns reclamaram que nem todos os jornalistas usavam preto – um eco da polêmica sobre a gravata bordô usada por Peter Sissons quando anunciou a morte da Rainha Mãe em 2002 .

Reclamação até por dar motivo para reclamar

E em um sinal de que a BBC está destinada a ser criticada por todos os lados, 116 pessoas escreveram à corporação no fim de semana para reclamar que a emissora estava tornando muito fácil reclamar de sua cobertura.

 

Leia também: uma análise da cobertura de imprensa sobre a morte do Príncipe Philip e das repercussões nas redes sociais e um vídeo com as gafes mais famosas do Duque de Edinburgh

https://mediatalks.com.br/2021/04/10/principe-philip/