Dois relatórios diferentes publicados esta semana pelo governo britânico mostram crescimento no assédio online a crianças e jovens. O Ofsted (Office for Standards in Education, Children’s Services and Skills) órgão oficial que supervisiona as escolas do país, divulgou pesquisa mostrando que 9 em cada 10 meninas relatam receber com frequência fotos ou vídeos indesejados pelas redes sociais. A investigação foi motivada por um site criado por jovens para receber denúncias anônimas de agressões sexuais.

Outro relatório, do Ofcom (Office of Communications), que regulada as telecomunicações, sobre o uso da internet no país em 2020, alertou para o crescimento de abuso a crianças e jovens. Mais da metade dos entre 10 e 15 anos relatou ter tido experiência negativa online, como abordagens de estranhos ou mensagens indesejadas. 

Embora os resultados sejam restritos ao Reino Unido, pesquisas globais envolvendo diversos países sobre uso de redes sociais e da internet entre jovens e crianças têm mostrado comportamento semelhantes entre eles. 

Abuso nas escolas 

A pesquisa do Ofsted foi feita com base em entrevistas com mais de 900 crianças e jovens de 32 escolas e faculdades. O objetivo foi identificar a extensão do assédio sexual e violência sexual na internet e fora dela para recomendar medidas capazes de reverter o quadro. 

Uma das conclusões foi de que a situação tornou-se tão comum que muitos afetados nem veem sentido em relatar a professores ou pais. As meninas  disseram que o assédio sexual e o abuso sexual online, como o envio de material sexual explícito não solicitado (como fotos de órgãos sexuais) e a pressão para enviar nudes (‘nus’), são muito mais comuns do que os adultos imaginam. 

Quase 90% das meninas e quase 50% dos meninos disseram que o envio de fotos ou vídeos explícitos de coisas que não queriam ver acontece muito com elas ou seus colegas. Relataram também receber com frequência vídeos pornográficos. 

As plataformas típicas para compartilhamento de material entre crianças e jovens costumam ser o WhatsApp e o Snapchat, segundo apurou o Ofsted.

Mais tempo e mais riscos na internet

O relatório do Ofcom que saiu esta semana é uma pesquisa anual que examina o uso da internet no país em aspectos como tempo dedicado, cobertura do acesso e formas de utilização. O estudo tomou como base o mês de setembro de 2020.

Ele mostrou que em 2020 os britânicos ficaram mais tempo conectados do que em 2019, devido aos longos períodos de isolamento social impostos no país. O tempo em smartphones foi quatro vezes maior, alcançando 2 horas e 19 minutos por dia. 

Crianças de 7 a 8 anos passaram a média de quase três horas por dia online, e as de 15 a 16 anos, quase cinco horas. Metade das crianças do Reino Unido possui um telefone celular aos dez anos de idade, e quase todas as crianças acima de 13 já têm o seu.

Entre os pais de crianças de 5 a 15 anos que entraram na internet, metade disse ter sentido necessidade de relaxar algumas das regras sobre o que seus filhos faziam online porque estavam passando mais tempo em casa do que o normal. Mas, apesar dos aumentos no tempo de tela das crianças, a maioria dos pais (59%) disse achar que seus filhos tinham um bom equilíbrio entre o tempo de tela e outras atividades.

A mídia social é parte integrante da vida da maioria dos adolescentes, mesmo daqueles que não teriam idade para utilizá-las. Embora a maioria das plataformas defina sua idade mínima de usuário como 13, aos 11 anos a maioria (59%) das crianças do Reino Unido usa as redes sociais. Aos 15 anos, 95% das crianças as usam.

O Instagram é usado por 66% dos jovens de 12 a 15 anos, à frente do Snapchat (58%) e do Facebook (54%).

Mas segundo o Ofcom, a internet nem sempre é um ambiente adequado para crianças. O relatório afirma que mais da metade dos jovens de 12 a 15 anos entrevistados disseram que tiveram uma experiência online negativa em 2020.

Em telefones celulares, a mais comum dessas experiências foi “ser contatado online por alguém que você não conhece e deseja seja seu amigo” (citado por 30% no geral). Um total de 18% sentiram-se assustados ou perturbados, enquanto 17% viram conteúdo sexual que causou  desconforto.

O Ofcom revelou também que um quarto das crianças de 8 a 11 anos e um terço das crianças de 12 a 15 anos disseram ter sofrido bullying pessoalmente, seja online ou off-line. As crianças mais velhas são mais propensas a sofrer bullying por meio de mídias sociais e aplicativos de mensagens, enquanto as crianças mais novas são mais propensas a dizer que sofreram bullying enquanto jogavam online, afirmou o estudo. 

Lei a caminho 

Está em tramitação no Reino Unidouma nova regulamentação para a internet e redes sociais, baseada no conceito “duty of care”, o dever de cuidar. O objetivo principal é proteger crianças e adolescentes de assédio e também evitar proliferação de discurso de ódio e terrorismo. 

O Governo e entidades de defesa das crianças têm se manifestado duramente contra os planos do Facebook de introduzir a criptografia de ponta a ponta no Instagram e no Messenger. O motivo é que isso dificultaria a investigação de denúncias de assédio online, favorecendo os que se aproximam de crianças e jovens por essas redes sociais. Até o serviço secreto M15 entrou na briga para evitar a adoção da tecnologia.

Há também um movimento capitaneado por atletas e personalidades para acabar com o anonimato nas redes sociais, maso Facebook já se manifestou contrário à ideia.

 

 

 

 

 

 

 

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