Embora a censura na China continue impedindo o trabalho da mídia local independente e até a presença das plataformas digitais, um acordo firmado com os Estados Unidos durante encontro entre os líderes das duas nações permitirá que jornalistas transitem livremente entre os países. 

Fontes do Ministério das Relações Exteriores da China e o Departamento de Estado dos EUA confirmaram as informações depois de uma reunião em 16/11, e veículos como o jornal estatal China Daily e a mídia ocidental confirmaram a notícia.

É um movimento dúbio por partes dos chineses, pois o país relaxa alguns pontos de sua política de repressão contra a mídia internacional depois de uma sequência de expulsões de correspondentes, ao mesmo tempo em que é cobrado pela libertação de presos como Zhang Zhan, condenada a quatro anos de cadeia por transmitir notícias sobre o surto de coronavírus.

Consenso e censura na China

O acordo do trânsito livre dos jornalistas foi alcançado graças a pontos de consenso entre o presidente Xi Jinping e o presidente dos EUA, Joe Biden. Um foi que os EUA emitirão vistos de entradas múltiplas de um ano para jornalistas de nacionalidade chinesa.

Com base no princípio da reciprocidade, a China se comprometeu a conceder tratamento igual aos jornalistas americanos, imediatamente após a entrada em vigor das políticas dos EUA.

Ambos os governos aumentarão a validade dos vistos de jornalista de três meses para um ano (obedecendo suas regras próprias), e eles também se comprometeram a permitir que jornalistas partissem e retornassem livremente, o que antes não podiam.

Risco de vida sob a censura da China

Uma liberdade de ir e vir que é negada para Zhang Zhan, jornalista chinesa presa em seu país por ter transmitido notícias sobre a Covid-19 a partir da cidade de Wuhan, em 2020. Há clamor internacional por sua libertação, já que ela corre risco de vida.

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A jornalista chinesa Zhang Zhan em uma das transmissões que fez em Wuhan, epicentro da Covid-19. (Reprodução)

A situação de Zhang Zhan na China é dramática. Ela entrou em greve de fome parcial em junho de 2020, e segundo sua família, já não consegue andar nem levantar a cabeça sem ajuda. Zhang, de 38 anos, tem 1,77m de altura e está pesando menos de 40 quilos.

Em uma carta conjunta publicada em 17 de setembro de 2021, a organização jornalística do Repórteres sem Fronteiras (RSF) e uma coalizão de 44 ONGs de direitos humanos instaram o presidente chinês Xi Jinping a exonerar e libertar Zhang Zhan.

Segundo a RSF, junto com Zhang Zhan, pelo menos 10 outros defensores da liberdade de imprensa detidos na China podem em breve sofrer um destino mortal , incluindo o repórter investigativo e premiado pela liberdade de imprensa da RSF, Huang Qi , o editor sueco Gui Minhai e o jornalista uigur Ilham Tohti , ganhador do Prêmio Václav Havel e Prêmio Sakharov.

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Tratamento “normal”

A notícia do jornal estatal China Daily classifica o acordo de trânsito entre os jornalistas dos dois países como “a nova normalidade de China e EUA tratarem-se de maneira igual.” 

As fontes oficiais dos governos americanos e chineses disseram que o acordo foi resultado de mais de um ano de difíceis negociações sobre como proceder no tratamento dos meios de comunicação nos respectivos países.

Há casos de restrições de ambas as partes, com as mídias ocidental e chinesa repercutindo os casos. O jornal estatal afirma que desde 2018, os EUA negaram mais de 20 vistos a jornalistas chineses.

Veículos de mídia do Ocidente rebate lembrando que a China expulsou 13 jornalistas americanos, que trabalham para publicações como New York Times, Washington Post e Wall Street Journal.

Liberdade de imprensa na China

A China, classificada em 177º lugar entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa Mundial da RSF de 2021, publicado em abril, é a nação que mais prende jornalistas, com pelo menos 122 detidos.

Mapa gráfico sobre a liberdade de imprensa nos países, destaque para a China e sua censura

 

A China também é acusada pela RSF de continuar a censura, a vigilância e a propaganda na internet em níveis sem precedentes.

O Brasil caiu quatro posições e passou à 111ª colocação no ranking deste ano . Saiu da zona laranja, onde estão as nações cuja situação é considerada sensível, e entrou para a vermelha, um clube formado por aqueles onde a situação da liberdade de imprensa é classificada como difícil.

Mídia e redes sociais

A censura na China também empurra para fora do país empresas de mídia digital e veículos internacionais. Após o encerramento da operação do Linkedin na China, em outubro, o Yahoo decidiu também interromper todos os seus serviços de internet no país, em 1 de novembro.

O ambiente estava e ainda está marcado pela pressão do governo chinês para interferir na moderação de conteúdo em plataformas estrangeiras, as poucas ainda permitidas pelo regime.

“Em reconhecimento ao ambiente jurídico e de negócios cada vez mais desafiador na China, o pacote de serviços do Yahoo não estará mais acessível da China continental a partir de 1º de novembro”, comunicou a empresa em uma nota.

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